Com a guerra, a inflação passou de fenómeno eventualmente passageiro para algo que será seguramente mais duradouro e mais intenso, com todas as consequências que se podem perspetivar em termos de alterações à estrutura de preços e rendimentos.
Para além de afetar o cálculo, trabalhar com inflação implica perceber que as correções monetárias são diferentes quando aplicadas a bens e serviços distintos, sendo essas diferenças normalmente maiores quando as taxas de variação dos preços são muito elevadas e ou quando os aumentos de custos que estão na base têm comportamentos bem diversos.
O resultado são alterações substanciais nas “grelhas” de preços e não só na expressão monetária dos diversos fatores produtivos. Por isso, nestas circunstâncias, sobretudo enquanto a inflação não estabiliza, não basta atualizar os valores dos custos e dos proveitos que temos nas nossas empresas ou em qualquer projeto por uma qualquer taxa teórica de inflação, seja ela geral ou setorial. É preciso ir mais fundo e analisar o comportamento de todos e cada um dos itens.
Nestas situações, é natural que as opções que eram boas no passado se tornem desajustadas.
O que era negócio pode passar a prejuízo e vice-versa.
Há muitas armadilhas neste processo de raciocinar e decidir em tempos de inflação e a verdade é que nós perdemos a prática.
O setor imobiliário é um dos mais expostos, não só porque a subida dos juros torna os ativos imobiliários menos interessantes em comparação com outras alternativas nos mercados financeiros, mas também porque, mesmo que os rendimentos das famílias acompanhassem em termos de aumentos a evolução das taxas de juro, a desproporção entre os valores de base obrigaria à mobilização de uma parte cada vez maior desse rendimento para cumprir a prestação de um empréstimo. Como sabemos, por experiências passadas, nem todos aguentam.
Obras, Materiais e Equipamentos para a Construção nº 139
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