Boletim Materiais de Construção nº 422

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Muitas obras e poucos proveitos!

Apesar de já se notar uma melhoria do clima de negócios, o primeiro semestre do ano foi algo dececionante e o verão bem mais fraco do que é habitual.

Aparentemente existe alguma contradição entre esta situação e o grande volume de obras em curso, bem como a persistente escassez de mão-de-obra que não permite satisfazer totalmente a procura e reduzir os prazos de execução dos projetos. Mas talvez essa seja, pelo menos em parte, uma das razões por que as vendas não descolam.

Outra das razões, que temos enfatizado, é o facto dos preços de venda terem vindo a baixar ao longo de mais de um ano e meio, o que acaba por ter um reflexo negativo nos números mensais e, também, na liquidez e nas margens. Aliás, as próprias margens e os preços estarão a ser igualmente pressionados por esta tentativa de repor números de vendas num quadro em que o mercado efetivamente pouco cresce no setor profissional (altamente concorrencial) e que perdeu uma parcela significativa no segmento do retalho, vítima da redução da capacidade financeira das famílias por via da inflação e das taxas de juro.

Recordamos que não há nada de surpreendente no que se está a passar. Já no início de 2023 e, posteriormente, quando atualizámos as nossas previsões para os próximos dois anos, chamámos a atenção para que haveria repercussões no tempo do atraso e suspensão de muitos projetos de construção (as subidas de preços em 2022 e o pacote Mais Habitação do anterior governo) e da subida das taxas de juro, dos quais só se deveria começar a recuperar no final de 2024 e, de forma mais significativa, ao longo de 2025. Por isso, as nossas previsões não foram além de um crescimento na ordem do 1% a 1,5% para este ano.

O fenómeno será, esperamos, temporário. As vendas e as margens começarão a aumentar com a chegada dos projetos de construção à fase de acabamentos, requerendo um maior consumo de produtos com maior valor económico e, também, com a recuperação do segmento do retalho, após o alívio das taxas de juro e o controlo da inflação.

Todavia, devemos reter que se não for possível aumentar a capacidade do setor da construção de forma significativa, ainda que a procura potencial seja elevada, não poderemos esperar por um grande crescimento nos materiais de construção num futuro próximo.

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