Boletim Materiais de Construção nº 404

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A raiz de todo o mal

Depois da “saída limpa”, o país beneficiou, por razões que nos são totalmente alheias, de uma conjuntura internacional que fez de Portugal o maior beneficiário, em termos relativos, das medidas tomadas para responder à crise financeira.

Vejamos. Foi a desvalorização do euro, que assegurou a competitividade da nossa indústria relativamente à concorrência asiática; foi a taxa de juro negativa, que aliviou a asfixia causada pelo sobreendividamento do Estado, das empresas e das famílias; foi o ciclo negativo dos preços das matérias-primas e da energia, que reduziu o peso da nossa dependência.

Resultado disso, mesmo na ausência de quaisquer políticas públicas, as empresas e as famílias reduziram os encargos com as respetivas dívidas, o Estado ganhou três mil milhões de euros por ano com poupança de juros, conseguindo com isso e com a redução do investimento público a um mínimo histórico equilibrar as contas, ao mesmo tempo que os estrangeiros descobriram Portugal e investiram no imobiliário, dinamizando o turismo e fazendo de um e outro a mola do crescimento económico recente.

Como não há bem que não se acabe, vieram dois anos de pandemia e uma guerra que aceleraram a mudança dos ventos, a qual, aliás, já se pressentia no final de 2019: escalada dos preços das matérias primas e da energia, inflação e subida das taxas de juro. O turismo, entretanto, regressou, mas o resto mudou e nem a nova desvalorização do euro compensa a alteração das condições de concorrência internacional face às mudanças que estão a ocorrer na globalização.

Resultado, instalou-se a crise social, que só ainda não é económica porque, à conta da pandemia, recebemos um cheque de mais de 18 mil milhões de euros…

Todavia, a degradação nos serviços públicos é evidente, quer pela falta de investimento, quer pelos sete ou oito anos de completa ausência de gestão, entenda-se políticas públicas de atualização, adaptação ou reforma. O tecido empresarial continua numa situação de fragilidade de capital, que a subida das taxas de juro irá revelar de forma acelerada, não parecendo capaz de assegurar dinâmicas de crescimento da produtividade que nos façam escapar da ponta da cauda da Europa, para onde temos sido, ano após ano, remetidos.

Soaram os alarmes! Aflito e acossado, o governo, finalmente, apressou-se a desenhar novas políticas públicas nas mais diversas áreas, mas infelizmente sem tocar no essencial e até, como se está a ver em domínios como o do trabalho e o da habitação, arriscando agravar os problemas.

Por mais que os nossos dirigentes políticos incumbentes não o queiram reconhecer e até se percebe bem que como “funcionários” e “peças” do sistema público não percebam, nem lhes interesse, o problema está precisamente no peso da administração e da relação pouco saudável, de dominância e suspeição, que tem com os cidadãos e as empresas, que tem o seu maior expoente numa fiscalidade abusiva, irracional e injusta.

É por corrigir este estado “salazarento” que temos que começar!

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