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Boletim Materiais de Construção nº 429
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A dúvida, a ameaça e a incerteza
A natureza da atividade comercial, que a torna dependente de uma nuvem de fatores externos, de carater geral ou de outros mais específicos, quer a montante, quer a jusante, tornam os nossos empresários particularmente sensíveis e preocupados com os sinais que nos vão chegando do mundo, da economia e da política.
Isto não é novo nem exclusivo do nosso setor, sendo certo e por demais conhecido que os níveis de incerteza relativos a cenários futuros são determinantes para a tomada de decisão dos agentes económicos, podendo, no limite, produzir paralisia e, consequentemente, quebras sérias nas atividades.
Os primeiros meses do ano, não obstante o desempenho positivo da maioria dos segmentos do setor da construção e as expetativas fundamentadamente otimistas para os próximos dois anos, viram acumular-se sinais de alarme, uns externos e outros internos, de natureza económica e política, que causam alguma apreensão.
Vamos por partes. Ao nível interno a maior ameaça vem da política pura, isto é, do resultado das eleições marcadas para 18 de maio. Sobre isto e ainda que a possibilidade de um período de instabilidade política potencialmente corrosiva não possa ser afastada para já, pelo menos a ameaça de uma governação à esquerda, com mais impostos sobre o património e os lucros e mais restrições a preços e rendas, parece estar mais longe de se concretizar.
Assim, será na dimensão externa que as dúvidas sobre a evolução futura se adensam mais. É o desfecho da “guerra das tarifas” e os seus potenciais efeitos sobre uma economia europeia estagnada, da qual dependemos para subsídios, exportações e turistas, que mais nos pode prejudicar. Mas, devemos reconhecer, ainda que o problema das tarifas se resolva a contento, já a questão da falta de competitividade dos países da União Europeia irá permanecer, agravando as nossas perspetivas de crescimento.
Em todo o caso, não será isso, por si só, que irá causar dificuldades ao nosso setor nos próximos dois anos. A procura ainda é muito superior à oferta e, tradicionalmente, o setor da construção beneficia de uma certa inércia relativamente ao conjunto da economia.
Assim, parece-nos que, nas condições atuais da nossa economia e do setor, os fatores que maiores impactos negativos poderão vir a causar são os de carácter financeiro (crédito, juros e preços) ou uma eventual queda do turismo. É a esses sinais que deveremos estar particularmente atentos.