Boletim Materiais de Construção nº 411

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A seguir somos nós?

Os últimos dados sobre o emprego revelam um crescimento homólogo substancial do número de desempregados registados, assim como o aumento do número dos que recebem subsídio. A subida do desemprego acima dos 300 mil é sobretudo consequência das dificuldades que as indústrias do têxtil, do vestuário e do calçado enfrentam desde o início do ano, devido à quebra de encomendas oriundas do espaço europeu.

O espectro da recessão na Europa voltou a ganhar força e deverá aprofundar-se em 2024 num cenário de juros e inflação elevados, com efeitos que começaram a sentir-se primeiro na diminuição do consumo de bens não essenciais, mas que, entretanto, já se alargaram a outros setores, nomeadamente ao imobiliário e à construção.

Assim, é muito natural que, atenta a continuidade das guerras e da confrontação comercial com a China, outros setores venham a ser severamente prejudicados, aprofundando essa recessão que, mesmo que temporária, não é seguro que seja seguida de uma retoma robusta, num contexto de fortes tensões internacionais, de recuo da globalização, do envelhecimento demográfico e de crescentes custos com as políticas, nem sempre bem calibradas, de transição energética.

A indústria de materiais de construção, nomeadamente, irá enfrentar maiores dificuldades nas suas exportações e a concorrência vai intensificar-se no mercado nacional, que, temos que reconhecer, poderá não crescer nos próximos três anos, apesar da previsão dos gastos públicos do PRR com habitação, escolas, hospitais, residências para idosos, obras públicas e eficiência energética.

O maior investimento público neste período deverá ser compensado por uma quebra na procura de imóveis no setor privado, seja pelas dificuldades das famílias e pelo aumento do desemprego oriundo dos setores industriais exportadores, seja pelas medidas que o governo tem vindo a tomar (vistos gold, residentes não habituais, alojamento local, congelamento das rendas, etc.), ou ainda, finalmente, porque taxas de juro mais altas tornam o imobiliário menos apetecível para os fundos de investimento. É perfeitamente natural que venhamos a assistir a algum abrandamento na promoção privada de construção e reabilitação de edifícios (com prejuízo para os centros das cidades), que, até agora, tem estado particularmente focada no segmento alto da habitação e nas áreas do turismo, do comércio, dos serviços e da logística.

O problema de carência da habitação irá, todavia, manter-se e os preços dos imóveis não irão baixar muito, a menos que a crise (Deus nos livre!) chegue ao setor do turismo e faça emigrar mais portugueses ou regressar a casa ou para outras paragens os muito milhares de trabalhadores migrantes que recebemos na ultima meia dúzia de anos. Mas isso seria inquestionavelmente uma tragédia!

A experiência ensinou-nos que o setor da construção é quase sempre o último a cair. Mas também nos diz que cai mais fundo e demora mais tempo a recuperar que os outros setores.

Esperemos que sejam só nuvens passageiras!

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