Boletim Materiais de Construção nº 405

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Há nuvens no horizonte…

Se até agora beneficiámos de um ciclo muito positivo da construção, como, aliás, o resto da Europa, ciclo esse que se esperava inicialmente se prolongaria até 2030, a verdade é que a inflação elevada, o disparo das taxas de juro e as ondas de choque das alterações geopolíticas estão já a causar estragos um pouco por todo o mundo e a fazer cair rapidamente as expetativas.

Embora o cenário da recessão na Europa tenha sido afastado, o crescimento atual e o previsto para os próximos meses é claramente anémico e as coisas podem voltar a piorar se a política monetária, como parece provável, vier a endurecer do lado de lá do Atlântico.

Seja como for, pode dar-se como adquirido que a perda do poder de compra das famílias irá continuar a degradar-se, cá e lá fora, por mais dois anos, ao mesmo tempo que as taxas de juro de referência se aproximarão dos 4% e poderão aí permanecer muito tempo se os países continuarem a despejar dinheiro nos problemas e a alimentar uma inflação que dificilmente irá ceder, porque resulta em grande parte dos custos da transição energética, da fragmentação dos mercados e da perda de produtividade induzida pela desglobalização.

No que nos diz respeito, o nosso setor, apesar da maioria dos fatores positivos que sustentam a procura no setor imobiliário ainda se manterem, bem como o facto dos investimentos do PRR em habitação e em obras públicas estarem quase todos por executar e de haver muitos apoios previstos para a reabilitação energética, não podemos deixar de nos preocupar com a perda do poder de compra das famílias e com as dificuldades crescentes no acesso ao crédito.

Em boa verdade, o que determina a procura efetiva não é somente a satisfação de uma necessidade, mas sim a capacidade de adquirir. Na crise anterior, chegou a dizer-se que havia trezentas mil casas a mais, quando o maior dos problemas foi o de não haver dinheiro para as comprar, nem para pagar as prestações ao banco das que tinham sido compradas nos anos anteriores porque as taxas de juro tinham subido e as pessoas tinham perdido os empregos.

Os países nórdicos, a Alemanha, a França e o Reino Unido esperam este ano uma quebra significativa no setor da construção que deverá agravar-se em 2024, antes de recuperar em 2025. É claro que as quebras, se limitadas, são aceitáveis, mas, por exemplo, em França já começa a haver alguma crispação.

Lembremo-nos que, na persistência de um cenário de inflação e juros elevados, as empresas e a economia vão começar a sentir grandes dificuldades, aumentará o desemprego e o investimento no imobiliário perderá atratividade e valor. Até o turismo se pode ressentir.

Apesar de estarmos numa posição que parece algo privilegiada no contexto europeu, a nossa “dívida” é elevada e não podemos considerar-nos, do todo, imunes a estes fenómenos.

Convém estarmos prevenidos.

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