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Oportunidades e ameaças
Apesar da controvérsia gerada pelo pacote “Mais Habitação” apresentado recentemente pelo governo, motivada sobretudo por algumas más ideias, que parecem radicar num misto de desconhecimento e de preconceito sobre o funcionamento do mercado imobiliário, a verdade é que, no fundamental, a iniciativa reconhece que é preciso fazer mais. E isso é, claramente, um bom sinal para o nosso setor.
É verdade que, até ao momento, não temos razões de queixa. O mercado tem vindo a crescer há vários anos e o setor da construção tem a sua capacidade praticamente esgotada. Mesmo as perturbações sofridas com o aumento dos preços e falta de produtos no último ano e as que agora têm vindo a surgir pelas razões inversas não constituem propriamente uma crise.
É certo que as perturbações que referimos, mas sobretudo a inflação e a subida rápida e significativa das taxas de juro, estão a provocar um abrandamento, que já se sente, na atividade, quer porque a queda do poder de compra das famílias é um facto, quer porque os encargos com o crédito à habitação e os “travões” colocados pelos bancos funcionam como desincentivo ao avanço dos projetos direcionados à classe média.
Neste contexto, a prioridade política que agora foi dada ao problema da habitação, procurando dinamizar a oferta, é uma boa notícia para nós e se as medidas forem ajustadas, como deverão ser, apesar do tropeção inicial, o setor terá pela frente mais de uma década de crescimento.
Esperamos sinceramente que após a discussão pública das propostas apresentadas, as medidas mais radicais de ataque à propriedade e de proibição das atividades do alojamento local e de investimento de estrangeiros sejam substituídas pelo incentivo ao mercado do arrendamento e do investimento na reabilitação das cidades (que não pode parar), reestabelecendo a confiança dos proprietários e dos investidores que tem sido fortemente abalada nos últimos dias.
Já agora, convém lembrar aquilo que, embora tenha acontecido há muito pouco tempo, muitos se estão a esquecer: a construção nova parou quando lhe foi cortado o crédito em 2011.
Se não forem criados novos mecanismos de financiamento para promotores, construtores e famílias, que terão que ser naturalmente diferentes dos que vigoraram até ao “resgate”, quando a banca financiava três vezes o mesmo ativo, não será possível, independentemente de outros fatores que naturalmente também terão que ser considerados, ter um volume de construção que satisfaça as necessidades da procura, que, tudo indica, continuará a crescer.
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