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O regresso a um triste futuro
Na última semana a grande notícia foi a da ultrapassagem de Portugal pela Roménia, em termos de PIB per capita, já em 2024.
Com esta notícia voltou a discutir-se a questão do afastamento do país dos níveis médios da riqueza europeia que se vêm a verificar ao longo das duas últimas décadas. Se bem se lembram, o assunto já tinha sido muito falado a propósito do “resgate” de 2011 e, há menos tempo, no final de 2019, quando os alarmes da estagnação do crescimento foram substituídos pelos da pandemia.
É uma questão recorrente que, em nossa opinião, não pode mais ser adiada, seja a pretexto das crises conjunturais, seja porque se depositam repetidamente as esperanças nos efeitos milagrosos dos milhões dos fundos europeus que, uma vez mais, estão aí a chegar. O que seria de nós sem eles?
O país está há demasiados anos a viver dos fundos, do crédito e, mais recentemente, do turismo (e do imobiliário).
A verdade é que para além de irem ajudando a pagar as contas e a evitar o colapso de um estado mastodôntico e cada vez mais ineficiente, ajudando a disfarçar a realidade incómoda da nossa baixa produtividade e de uma economia pouco competitiva, os fundos europeus contribuem para que não se tenha ainda enfrentado, de uma vez por todas, as causas profundas do problema, que se situam ao nível da falta de organização coletiva e numa gritante inconsistência estratégica.
Diz-se muitas vezes que o nosso problema é cultural. Outros dirão que é ideológico. Provavelmente serão ambos verdade. Mas, na prática, resume-se a um conjunto de princípios equivocados e outras tantas más práticas.
Afirmar que o “bem público” e o “bem comum” são a mesma coisa é, porventura, um dos maiores equívocos instalados na nossa sociedade, confundindo-se a máquina do estado e os seus agentes com esse mesmo bem público que, muitas vezes, representam apenas interesses corporativos. Veja-se o caso dos transportes, da educação e o do famigerado SNS.
Predomina uma cultura fortemente “salazarenta” que atribui ao Estado e aos seus agentes toda a “virtude”, enquanto alimenta a desconfiança com os negócios “privados”, tidos como egoístas, antissociais, senão mesmo especulativos. O lucro (o capitalismo) é desprezado, desconsiderando-se o papel do empreendedorismo na criação de riqueza social, a qual, verdadeiramente, só é entregue ao povo pelo Estado, através dos serviços que presta e da redistribuição do dinheiro obtido através dos impostos.
A mesma leitura nos é dada pela conceção social dominante, a que Nietzsche chamou “a moralidade do escravo”, baseada no ressentimento, que desvaloriza tudo aquilo que os ricos possuem, inclusive a liberdade. Entre nós, costumamos chamar-lhe “inveja”.
Isso explica o outro lado da perseguição aos privados que supostamente querem enriquecer à custa dos negócios, dos trabalhadores e dos preços dos produtos e dos serviços essenciais, etc.
Os impostos sobre as empresas, que as impedem de crescer, o afastamento do setor privado de vastos setores de atividade, os impostos fortemente progressivos sobre os salários, as limitações ao direito de propriedade (caso dos imóveis para arrendamento), são uma boa parte da “canga” que, na prática, impende sobre todos os portugueses a quem, em boa verdade, não se reconhece discernimento, nem mérito, para, com o seu esforço, melhorar a vida de todos, isto é, prosseguir o “bem comum”.
Se nem todos podem ser ricos, então que sejam todos pobres!
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